Como lidar com a ansiedade em crianças?

12/07/2017

A cena é um clássico do começo de ano nas escolas de todo o mundo. Enquanto algumas felizardas recebem apenas um aceno de longe, outras mães, tentando deixar as crianças, enfrentam choro e ranger de dentes de desespero. Quem não conhece uma criança que parece birrenta? Ou que segue dormindo na cama dos pais depois de grande? Nossas lembranças de uma infÁ¢ncia plenamente feliz são filtros. Crescer e adaptar-se ao mundo é essencialmente angustiante, o que causa ansiedade. Mas, quando a criança não relaxa nunca, não quer sair de casa, não consegue ficar sozinha, sua ansiedade pode ter se tornado doença.

A ansiedade é uma das patologias psiquiátricas mais comuns nas crianças, atrás apenas dos Transtornos de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) e de conduta. Cerca de 10% dos pequenos sofre de algum transtorno ansioso, e cinco em cada dez passarão por algum episódio depressivo por causa dela. Á‰ necessário estar atento, também, Á  ansiedade que não chega a ser um transtorno, mas que traz sofrimentos e prejuÁ­zos cotidianos, como diminuição da autoestima.

O Manual Diagnóstico e EstatÁ­stico de Transtornos Mentais (DSM-V) tem um novo olhar sobre os quadros psiquiátricos em geral, em particular os de ansiedade. Antes, separavam-se os de inÁ­cio especÁ­fico na infÁ¢ncia; hoje, estão todos catalogados sem divisão de faixa etária. Isso significa que os transtornos presentes em crianças e adolescentes não são mais vistos como menos graves.

Os mais frequentes na primeira fase da vida são o transtorno de ansiedade de separação, o transtorno de ansiedade generalizada e as fobias especÁ­ficas (medo de animais, de avião, de elevador¦), seguidos pela fobia social e o transtorno de pÁ¢nico. Apesar da existência de um quadro clÁ­nico para cada um, a maioria das crianças apresentará mais de um transtorno ansioso “ a chamada comorbidade.

Quando ansiedade é doença?

A terapia cognitivo-comportamental (TCC), que tem eficácia comprovada no tratamento de distúrbios ansiosos, vê que os indivÁ­duos com ansiedade percebem o mundo como um lugar perigoso, que exige constante vigilÁ¢ncia. Além disso, são sensÁ­veis demais a estÁ­mulos que sugerem reprovação, e sofrem de autocrÁ­tica exagerada.

Coordenador do Programa de Transtornos de Ansiedade na InfÁ¢ncia e Adolescência do Instituto de Psiquiatria do Hospital das ClÁ­nicas da FMUSP, Fernando Ramos Asbahr compara a percepção do ansioso a um sensor desregulado de incêndio, que alaga um prédio inteiro por conta de um riscar de fósforo. œA ansiedade pode até atrapalhar o desenvolvimento, mas o problema é quando altera o dia a dia. A criança não consegue ir para a escola, não entra numa loja, tem problemas de convivência, afirma.

Pais nervosos, filhos ansiosos

Tanto por caracterÁ­sticas do ambiente em que são criados quanto pela herança biológica, a ansiedade dos pais tem influência crucial na saúde dos filhos. œO maior fator de risco de uma criança ou adolescente é ter um pai ou mãe ansioso, diz Asbahr. Há casos em que os pais sentem-se fragilizados frente Á  prole, e acabam não segurando a barra de ser um ponto de referência e segurança. Á‰ também por isso que o envolvimento dos pais na terapia é fundamental para o sucesso do tratamento.

No transtorno de ansiedade da separação, os adultos têm um papel determinante. Com aparecimento precoce, ele é caracterizado pela dificuldade da criança em ficar sozinha e se adaptar na escola, incompatÁ­vel com o seu nÁ­vel de desenvolvimento. Os sintomas, que acometem principalmente crianças na faixa dos 6 a 8 anos, caracterizam-se por preocupações excessivas quanto aos perigos que envolvem os pais ou a si próprio, relutÁ¢ncia em estar desacompanhado deles e a dificuldade em adormecer ou dormir fora.

œO pai ou mãe ansioso, que acha que o filho vai sofrer na escola, deixa o filho ansioso, diz Asbahr. Por outro lado, ele afirma que, em certos casos, a ansiedade auxilia no diagnóstico. œPais que sofreram na infÁ¢ncia pensam ˜eu sei o que ele está sentindo, eu tinha isso™. Se a pessoa teve prejuÁ­zo pela ansiedade, vai sentir empatia, e isso é bom.

Usar técnicas de relaxamento e respiração com os pequenos, expor devagar os filhos a circunstÁ¢ncias diferentes e, principalmente, não se zangar, mas trabalhar em conjunto com as crianças para superar as dificuldades são dicas importantes para os pais.

Fonte: http://saude.abril.com.br